O Partido da Mídia
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O Partido da Mídia
Publicado no Diário do Amazonas do dia 20/04/2010 na página Opinião.
Odenildo Sena
Não me iludo com a linguagem e tenho fortes razões para isso. A formação acadêmica pela qual optei, descortinando, ao longo de vários anos de estudos pós-graduados, os meandros e as facetas do discurso, me ensinou que, de todos os territórios que assentam as ralações do ser humano sobre a face da terra, o mais elementar, fascinante e infinitamente complexo é o da linguagem. É no âmbito desse fenômeno que o ser humano, desde a mais tenra idade e nos duros embates das contradições sociais, molda a compreensão do mundo que está em seu redor e as crenças e convicções das quais se valerá para ocupar seu lugar ao sol. Pra encurtar caminho e não me enveredar pelo tecnicismo, correndo o risco de aporrinhar o leitor, quero com isso dizer que nada na linguagem é desprovido de interesse.
Tudo o que se diz, a quem se diz e como se diz é sempre carregado de interesses, velados ou ostensivos. A neutralidade, dessa forma, é sonho vão, fruto da nossa ingenuidade. Dito isso, não fica tão difícil entender o inalcançável desafio de se fazer jornalismo centrado nos fatos. Mas também não fica difícil entender que, quanto mais se distanciar dessa utopia, mais o pendulo estará se inclinando para a manipulação e prevalência de interesses do profissional e, por óbvia tabela, da sociedade (anônima, diga-se de passagem).
Ora, se o ideal, ainda que puro ideal, da matéria jornalística é aquele que partilha os fatos e deixa a cargo do cidadão as inferências e ilações, o desafio se torna maior ainda. Vê-se, portanto, que a rigor a mídia tem, ou deveria ter, um compromisso social e ético situado aquém e além da vontade e do desejo de quem a faz. Neste sentido, não cabe, ou não deveria caber, situá-la no plano maniqueísta de situação ou oposição, salvo no caso de seus editoriais e textos de responsabilidades explicita. Acontece que a utopia possível desse desejável tipo de jornalismo acaba de ser enterrada pela senhora Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais, ao reconhecer que, como os grupos de oposição ao governo Lula estão profundamente fragilizados, cabe aos meios de comunicação assumir, de fato, “a posição oposicionista deste País”, o que, convenhamos, num ato falho, deixa escapar um tom perigosamente golpista de que, se os políticos não conseguem fazer oposição, façamos nós, que temos esse poderoso instrumento em mãos.
Risível, não fosse tão trágico para a democracia.
Tudo o que se diz, a quem se diz e como se diz é sempre carregado de interesses, velados ou ostensivos. A neutralidade, dessa forma, é sonho vão, fruto da nossa ingenuidade. Dito isso, não fica tão difícil entender o inalcançável desafio de se fazer jornalismo centrado nos fatos. Mas também não fica difícil entender que, quanto mais se distanciar dessa utopia, mais o pendulo estará se inclinando para a manipulação e prevalência de interesses do profissional e, por óbvia tabela, da sociedade (anônima, diga-se de passagem).
Ora, se o ideal, ainda que puro ideal, da matéria jornalística é aquele que partilha os fatos e deixa a cargo do cidadão as inferências e ilações, o desafio se torna maior ainda. Vê-se, portanto, que a rigor a mídia tem, ou deveria ter, um compromisso social e ético situado aquém e além da vontade e do desejo de quem a faz. Neste sentido, não cabe, ou não deveria caber, situá-la no plano maniqueísta de situação ou oposição, salvo no caso de seus editoriais e textos de responsabilidades explicita. Acontece que a utopia possível desse desejável tipo de jornalismo acaba de ser enterrada pela senhora Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais, ao reconhecer que, como os grupos de oposição ao governo Lula estão profundamente fragilizados, cabe aos meios de comunicação assumir, de fato, “a posição oposicionista deste País”, o que, convenhamos, num ato falho, deixa escapar um tom perigosamente golpista de que, se os políticos não conseguem fazer oposição, façamos nós, que temos esse poderoso instrumento em mãos.
Risível, não fosse tão trágico para a democracia.
Odenildo Sena
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